Revolução Verde: Blockchain e a redução de emissões de carbono

A aplicação de blockchain e tecnologia de registro distribuído tem se mostrado uma solução favorável para verificar medidas de redução de emissões de carbono.

A aplicação de blockchain e tecnologia de registro distribuído (DLT) tem se mostrado uma  solução promissora para rastrear e verificar medidas de redução de emissões de carbono de forma confiável e transparente. Essas tecnologias oferecem uma estrutura descentralizada e imutável que permite a criação de registros públicos e compartilhados, garantindo a integridade e a rastreabilidade dos dados relacionados às emissões de carbono. A primeira aparição das duas terminologias foi em 2008, no artigo acadêmico intitulado “Bitcoin: um sistema financeiro eletrônico peer-to-peer.” publicado por Satoshi Nakamoto.

Através do uso de contratos inteligentes, a blockchain e a DLT podem automatizar e garantir a execução de acordos e transações relacionadas à redução de emissões. Isso inclui a validação e verificação de projetos de energia renovável, captura de carbono e compensação de emissões, bem como a emissão e transferência de créditos de carbono.

Ao registrar todas as transações em um livro-razão distribuído e transparente, a tecnologia blockchain fornece um registro confiável e verificável das reduções de emissões alcançadas. Isso cria um sistema de prestação de contas robusto e incentiva a transparência em relação aos esforços de redução de carbono.

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Como a tecnologia, oferece um sistema de transparência e rastreabilidade em toda a cadeia de suprimentos, permitindo acompanhar e verificar o impacto ambiental dos produtos. Isso aumenta a credibilidade e confiança, demonstrando práticas sustentáveis. Além de auxiliar na redução do carbono, a tecnologia pode auxiliar em processos de certificação e criação de selos sustentáveis. Tokenização de ativos ambientais como o crédito de carbono como mencionado anteriormente.

A aplicação de blockchain também contribui para a integridade dos dados climáticos, uma vez que evita a possibilidade de manipulação e falsificação das informações. Isso aumenta a confiança nas iniciativas de redução de emissões e facilita a criação de parcerias entre governos, empresas e organizações não governamentais.

Hoje em dia as principais empresas globais, já utilizam este sistema: 

  • Microsoft: A Microsoft tem investido em projetos baseados em blockchain e DLT, como o Azure Blockchain, que oferece suporte a várias aplicações empresariais, desde gestão de identidade até cadeias de suprimentos.
  • Walmart: A gigante varejista Walmart tem investido em soluções baseadas em blockchain para rastrear e garantir a segurança dos alimentos em sua cadeia de suprimentos,melhorando a transparência e a confiança dos consumidores.
  • Poseidon Foundation: A Poseidon Foundation utiliza blockchain para integrar soluções de compensação de carbono em transações do dia a dia, permitindo que os consumidores compensem as emissões de carbono de seus produtos e serviços.
  • Power Ledger: A Power Ledger é uma empresa que utiliza blockchain para facilitar a negociação e o compartilhamento de energia renovável entre produtores e consumidores, promovendo uma transição para um sistema energético mais sustentável

Essas são apenas algumas das principais empresas que estão utilizando o blockchain e DLT em suas iniciativas de sustentabilidade. É importante ressaltar que o uso do blockchain para sustentabilidade está em constante evolução, e muitas outras empresas estão explorando e implementando essa tecnologia para impulsionar suas práticas sustentáveis.

No contexto global das mudanças climáticas, a aplicação de blockchain e tecnologia de registro distribuído para rastrear e verificar medidas de redução de emissões de carbono oferece uma abordagem inovadora e confiável. Essas tecnologias podem desempenhar um papel fundamental na aceleração da transição para uma economia de baixo carbono, fornecendo um meio transparente e eficiente para contabilizar e impulsionar os esforços de mitigação do aquecimento global.

Matéria por Guilherme Borges – Meteorologista Climatempo

Rede de Detecção de Descargas Atmosféricas x Sensor de Raios

As descargas atmosféricas, popularmente conhecidas como raios, são fenômenos que ocorrem devido ao acúmulo de cargas elétricas na atmosfera, em geral dentro de grandes tempestades. Infelizmente, por causa desse fenômeno, inúmeros acidentes são registrados em todo o mundo em diferentes segmentos de atuação, como a construção, mineração, agricultura, energia, por conta das atividades que ocorrem a céu aberto, muitas vezes sem a devida proteção.

Figura 1: Foto de um raio durante uma tempestade na cidade de São Paulo/SP, por Rafael Reis Pereira.

Devido a esse problema, diversas empresas buscam soluções a fim de minimizar o efeito da ocorrência dos raios em sua operação (SMAC – faça um trial), procurando saber com antecedência a região e o momento em que eles irão acontecer. Para detectar uma descarga atmosférica, em geral, é necessário realizar o monitoramento do campo eletromagnético emitido pelas descargas, e para isso já existem algumas ferramentas, como os sensores de raios locais, as redes de detecção de raios globais e até mesmo os satélites meteorológicos. Mas qual a real diferença entre elas? Qual delas trará um maior benefício e, consequentemente, maior segurança para minha operação?

Vamos à explicação de como cada uma delas funciona:

Os sensores de raios locais são instrumentos instalados no ponto de interesse, com o objetivo de medir o campo eletromagnético emitido pelas descargas elétricas na atmosfera em uma frequência específica. Esses sensores são capazes de detectar aproximação de tempestades severas e alguns conseguem informar a distância aproximada da atividade elétrica. Atualmente existem inúmeros modelos espalhados pelo mundo e, em geral, o sensor possui uma cobertura limitada, numa área com raio pré-determinado a partir do ponto de instalação do sistema. Através do controle dos dados provenientes do sensor, podem ser estabelecidos níveis de risco para auxiliar a tomada de decisão sobre a interrupção de uma atividade externa, que pode ser afetada pela ocorrência de raios.

Figura 2: Exemplo de um sensor de raios, instalado localmente.

A rede de detecção de raios, como o próprio nome diz, se trata de um conjunto de antenas que operam em uma frequência de rádio específica para detectar emissões eletromagnéticas dos raios. As antenas que compõem a rede são distribuídas no globo obedecendo uma regra de distância umas das outras. Essa distância depende da frequência de operação da rede (VLF, LF, VHF). Em geral, quanto maior é a frequência de operação da rede, maior é o detalhamento do raio, porém as antenas precisam estar mais próximas.

Nas redes de detecção de raio as antenas operam em conjunto, e isso permite que as redes consigam detectar a posição do raio (latitude, longitude, altura) com alta precisão, além de informações como pico de corrente, polarização e tipo de raio (intra nuvem ou nuvem solo). Deste modo, é possível que o usuário tenha condições de determinar, em tempo real, o deslocamento da tempestade através da atividade elétrica, saber a taxa de crescimento ou dissipação do sistema, o que chamamos de “tracking”. Além dos sensores locais e redes de detecção de raios, os satélites meteorológicos também são capazes de detectar descargas atmosféricas através de sensores imageadores. A bordo do GOES-16, satélite geoestacionário operado pela NOAA, o sensor GLM (Geoestationary Lightning Mapper) é um imageador que observa a atmosfera na frequência do infravermelho próximo e detecta no topo das nuvens as emissões das descargas atmosféricas. O GLM consegue informar a posição (latitude e longitude) dos raios e cobrir uma grande área que vai dos EUA à América do Sul. Porém por observar a atmosfera do espaço e imagear as nuvens pelo topo, ele não é capaz de diferenciar se o raio é nuvem solo ou intra nuvem.

Figura 3: Interface de monitoramento da Climatempo, com sobreposição de imagem de satélite e raios em tempo real, detectados através da rede da Earth Networks (+ azul) e pelo sensor do satélite GOES-16 (+ roxo)

Deste modo, operações que requerem maior planejamento e segurança, por possuírem operadores expostos à ocorrência de tempo severo (como obras de infraestrutura, setor elétrico e operações do setor de mineração e portuário) precisam de um acompanhamento mais contínuo e acurado a fim de ter uma maior janela para uma tomada de decisão. Desta forma, com a informação correta e antecipada em mãos, permite-se adiantar/adiar uma operação por conta da aproximação ou ocorrência de uma tempestade com raios, minimizando a chance de acidentes.

A rede de detecção de raios permite o acompanhamento das tempestades desde o momento da sua formação e indicam para quais regiões elas se deslocam, através de metodologias do tempo de chegada e cálculos de triangulações. Os sensores de raios locais não são capazes de identificar todos os tipos de raios e nem a localização exata da ocorrência e isso pode afetar a identificação da formação de tempestades, acarretando atraso de um possível alerta de raios para a região de interesse.

A Climatempo trabalha com uma equipe de meteorologistas que operam em escala 24×7. Dentre as ferramentas utilizadas para o monitoramento nowcasting, temos as informações provenientes dos satélites meteorológicos, além da rede de detecção de raios da EARTH NETWORKS, que possui um erro médio de localização de raios nuvem solo de apenas 200 metros e cobertura em toda a América Latina. Com isso, o envio de alertas é feito com antecedência para a região de interesse dos clientes, através da ferramenta do Sistema de Monitoramento e Alertas da Climatempo (SMAC).

Camila Brasiliense
Head do Setor de Construção e Mineração

Como funcionam os alertas meteorológicos?

Condições de tempo severo possuem um grande impacto nas atividades a céu aberto, sendo um dos grandes motivos de paralisações das atividades e até mesmo de acidentes. Uma das maneiras de utilizar a meteorologia em favor dessas atividades, aumentando a segurança local e se antecipando diante da aproximação de tempestades, é promover o envio de alertas meteorológicos para as áreas de interesse dos clientes.

Os alertas meteorológicos são avisos que contêm informações sobre a aproximação de eventos com chuva forte, ventos fortes e raios que podem afetar as operações de diversos setores, como os de construção, mineração, transporte, logística e energia. Esses alertas costumam ser enviados para uma base de usuários cadastrados, informando o risco para a área pré-determinada, com um tempo de validade pré-estabelecido.

Há diversas formas de visualização dos alertas. Eles podem ser enviados por e-mail, SMS, chamadas de voz, push (notificação) no aplicativo, além da possibilidade de vê-los em tempo real na plataforma de gerenciamento de risco, através de alertas sonoros e visuais (SMAC- faça um trial). A disponibilidade dos alertas no histórico é outra informação relevante, pois pode ser usada para comprovar o intervalo em que uma operação ficou paralisada devido ao risco relacionado às condições adversas do tempo.

Para a emissão de alertas é imprescindível o pleno conhecimento dos critérios pré-estabelecidos das situações a serem alertadas. Sugerem-se limiares e critérios definidos para mudanças de estágio e emissão de alertas, mas também podem ser definidos critérios de acordo com a demanda do cliente. De modo geral, consideram-se 2 os estágios iniciais: Atenção e Alerta, onde cada estágio possui limiares bem definidos que devem ser respeitados para a emissão dos alertas. Pode-se observar um detalhamento do envio e do tipo desses alertas na imagem a seguir.

Figura 1: Representação dos alertas meteorológicos dentro da plataforma do SMAC – Climatempo.

Este procedimento é profundamente conhecido por técnicos e meteorologistas a fim de eliminar falhas no processo. Para a emissão de alertas meteorológicos eficazes é necessário que haja um monitoramento contínuo das condições do tempo por uma equipe de profissionais qualificados, além de sistemas automatizados para a visualização dos sistemas meteorológicos e plataformas de envio de informações automáticas, com possibilidade de edição para situações específicas.

Dentre os equipamentos essenciais para um monitoramento 24×7, estão a rede de detecção de descargas atmosféricas, imagens de satélites, imagens de radar meteorológico, dados de estações meteorológicas e pluviômetros, que serão monitorados por esta equipe de meteorologistas capacitada para a identificação das condições de risco em tempo real e com antecedência.

Por Camila Brasiliense,

Head do Setor de Construção e Mineração

Ciclone Bomba e seus Impactos na Transmissão e Distribuição de Energia

Dois episódios de formação de ciclone bomba receberam grande destaque na mídia brasileira nos meses de junho e de setembro de 2020. Os episódios foram responsáveis por ocorrências de tempo severo no Sul do Brasil, acompanhados de ventania de até 60 km/h no interior do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina e ventos mais intensos, de até 90 km/h na região entre o litoral norte gaúcho e a costa sul catarinense. As empresas de distribuição e transmissão de energia parceiras da Climatempo costumam acompanhar de perto com nossa equipe de meteorologistas o desenvolvimento e deslocamento deste fenômeno meteorológico. Infelizmente não conseguimos deter a ação do sistema, mas um alerta unido ao planejamento efetivo pode não só evitar grandes prejuízos, como também salvar vidas.

Como estamos nos aproximando do segundo semestre de 2021, vamos falar um pouco sobre a parte técnica de formação e atuação destes fenômenos no Brasil, seus impactos no setor de energia e como podemos nos planejar.

É importante ressaltar que por definição os ciclones são sistemas meteorológicos associados a áreas de baixa pressão em superfície (Petterssen, 1956) que modificam as condições de tempo e de clima das regiões em que atuam, sendo responsáveis pela formação de grandes áreas de nebulosidade associadas a episódios de chuva e vento intenso. Existem três tipos de ciclones que a princípio podem ser classificados de acordo com a faixa de latitude em que ocorrem: tropical (5° e 20°), subtropical (15° e 35°) e extratropical (sul de 25°)

Diferença Entre os Tipos de Ciclones

No entanto, estes ciclones apresentam diferentes mecanismo de gênese (ciclogênese) e de dissipação (ciclólise). A principal diferença está no processo de formação, que resulta em sistemas com diferentes estruturas verticais. Os ciclones subtropicais e tropicais apresentam núcleos de baixa pressão sobrepostos em diferentes níveis da atmosfera, como se estivessem “empilhados” um sobre o outro, desde a superfície até níveis mais altos da atmosfera. O centro de baixa pressão dos ciclones extratropicais, por outro lado, não são alinhados na vertical. As áreas de baixa pressão em altitude ficam deslocadas ou inclinadas para oeste em relação ao centro de baixa em superfície (Figura 1). Para formação deste tipo de sistema, é necessário gradientes horizontais de temperatura em superfície (baroclinia) e a proximidade com um cavado na alta ou média troposfera.

Tipos de ciclones  que a princípio podem ser classificados de acordo com a faixa de latitude em que ocorrem: tropical (5° e 20°), subtropical (15° e 35°) e extratropical (sul de 25°).
Figura 1: Estrutura vertical dos diferentes tipos de ciclones.

Gradientes de temperatura são observados ao longo do oceano Atlântico Sul, de forma que resultam na formação de três regiões ciclogenéticas (área favorável a formação de ciclones, indicada por RC na Figura 2), localizadas no sul da Argentina, na costa do Uruguai e na costa Sul/Sudeste do Brasil, respectivamente (Reboita et al., 2009).

Figura 2: Densidade de ciclogêneses (10-4 km-2) no período de 1990 a 1999, que se iniciaram com vorticidade menor ou igual a -1,5×10-5s-1. Adaptado de Reboita et al. (2010).

Para acompanhar notícias e avisos sobre ciclones para o setor de energia entre no grupo exclusivo de energia da Climatempo no Telegram!

Ciclones no Setor de Energia

Para a matriz energética brasileira, que ainda é extremamente dependente da geração hídrica, os ciclones extratropicais são extremamente importantes para a manutenção das chuvas nas bacias e reservatórios do Sul do Brasil devido a formação e passagem de sistemas frontais, principalmente nos meses de inverno. Já para o Sudeste e Centro-Oeste brasileiro, este sistema também impacta diretamente a posição da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), um dos principais sistemas meteorológicos atuantes da estação chuvosa (Robertson e Mechoso, 2000; Cavalcanti, 2006).

Porém, os ciclones também apresentam impactos negativos para o setor de energia, principalmente para as concessionárias de transmissão e distribuição de energia. Para as empresas de distribuição de energia, os ciclones mais intensos tendem a causar sérios impactos na rede elétrica principalmente devido a ação do vento e queda de árvores. Este combo (vento + árvores) é extremamente perigoso para a população, pode causar grandes danos urbanos e também impacta diretamente nos indicadores de continuidade das concessionárias. Visto este cenário, a Climatempo desenvolveu em 2019 um índice de criticidade que prevê através de inteligência artificial a % de CHI (Cliente hora interrompido) por microrregiões da área de distribuição com até 72 horas de antecedência. Esta tecnologia retira a subjetividade humana do operador no despacho das equipes e pode auxiliar na redução do DEC principalmente. Este projeto já virou um produto operacional e está disponível em nosso sistema de monitoramento e alerta (SMAC).

É importante ressaltar que a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) exige que as distribuidoras de energia mantenham um padrão de continuidade no fornecimento de energia elétrica em suas áreas de concessão, e para tal providencia limites para os indicadores coletivos de continuidade (DEC e FEC). O DEC mostra a duração em horas que um conjunto de consumidores ficou sem energia elétrica, enquanto o FEC é a frequência equivalente de interrupção por unidade consumidora (ANEEL).

Ciclone Bomba

A nomenclatura de “Ciclone Bomba” surgiu devido ao aprofundamento do sistema de baixa pressão de forma muita mais rápida do que é observado em outros episódios de ciclone. Normalmente o ciclone bomba possui uma queda de pressão superior a 24 hPa em um intervalo de 24 horas, um forte indicativo de tempestade intensa, com rajadas de vento que podem atingir 90 km/h.

Para o setor de energia, os impactos foram sentidos principalmente por empresas responsáveis pela distribuição e transmissão de energia elétrica no Sul do Brasil. Quedas de árvores, devido a intensas rajadas de ventos, deixaram mais de 600 mil pessoas sem energia elétrica no Rio Grande do Sul em junho de 2020. Além disso, rompimento de cabos e quedas de torres de transmissão também foram observados no estado de Santa Catarina.

Figura 3: registro de área destruída no município de Chapecó – Foto: Prefeitura de Chapecó (SC).

Para as transmissoras de energia que costumam ter ativos cruzando Estados, o impacto pode ser ainda mais prejudicial com queda de diversas torres em cascata. Para isso a Climatempo desenvolveu um módulo do SMAC (faça um trial) focado na transmissão de energia, com monitoramento de tempo severo ainda em países vizinhos e possibilidade de alertas por trechos de linhas. Após o impacto é possível ainda a consulta do histórico por faixa de servidão da linha de transmissão. Esta ferramenta é fundamental para a segurança das equipes em campo e otimiza o planejamento das atividades de operação e manutenção, evitando a parcela variável. 

Autores: Patricia Madeira – COO; Vitor Hassan – Head of Energy; Rafael Benassi – Meteorologista | Setor Elétrico; Filipe Pungirum – Meteorologista.

Referências Bibliográficas

CAVALCANTI, I. F. A. Tempo e clima no Brasil. Oficina de textos, 2016.

Indicadores Coletivos de Continuidade (DEC e FEC). ANELL, 2021. Disponível em: <https://www.aneel.gov.br/indicadores-coletivos-decontinuidade>. Acesso em: 25, março de 2021.

PETTERSEN, S. Weather Analysis and Forecasting: Volume I: Motion and Motion Systems. 1956.

REBOITA, M. S.; GAN, M. A.; ROCHA, R. P.; AMBRIZZI, T. Regimes de precipitação na América do Sul: uma revisão bibliográfica. Revista brasileira de meteorologia 25, no. 2 (2010): 185-204.

ROBERTSON, Andrew W.; MECHOSO, Carlos R. Interannual and interdecadal variability of the South Atlantic convergence zone. Monthly weather review, v. 128, n. 8, p.2947-2957,2000.



Como o clima impactou a safra verão 2021 e como se proteger para a próxima safra

A irregularidade das precipitações nos meses de outubro e novembro marcou o início da safra verão 20/21. Em várias regiões do Brasil a semeadura da soja ganhou ritmo somente em novembro, não sendo difícil encontrar regiões com plantio em pleno dezembro. O atraso na implementação da principal cultura de verão acabou jogando a segunda safra para meses de alto risco climático, seja por conta da redução drástica das precipitações (estação seca) ou então por conta da susceptibilidade aos eventos de frio no outono-inverno.

O impacto do clima na safra verão foi tão devastador, que o Instituto Matogrossense de Economia Aplicada (Imea) estima que as perdas atinjam R$ 1,3 Bilhões de Reais devido ao excesso de chuva observado durante os meses de fevereiro e março, o que têm causado avarias importantes nas lavouras de soja no Mato Grosso, em média na ordem de 15%. Fora o problema no Mato Grosso, diversas regiões do Sul e Sudeste estão com a colheita da soja atrasada, o que inevitavelmente jogará o milho safrinha para as condições de frio durante o outono. Exemplo disso é no estado do Paraná, onde ainda restam pouco menos de 30% de área a ser implementada.

O sucesso das safras está diretamente relacionado às boas condições climáticas, e por isso o conhecimento antecipado da tendência da distribuição das chuvas é um artifício que deve ser considerado no momento de planejamento da safra. Escolher as melhores épocas de plantio é parte desse planejamento, que tende a ser melhor executado com a utilização de informações climáticas de qualidade.

Para isso, a Climatempo fornece o melhor relatório climático regionalizado do mercado nacional. Empresas no Brasil e na Argentina, além das principais cooperativas agrícolas do Sul do Brasil têm tomado suas decisões baseadas nos indicadores de precipitação e temperatura fornecidos pela Climatempo.

Por João Castro, Agrometeorologista da Climatempo.

Impacto do Clima no Setor de Construção e Mineração – Fevereiro/2021 em BH

Os setores de construção e mineração possuem inúmeras atividades à céu aberto e, com isso, sofrem bastante com o impacto das fortes chuvas, principalmente quando estas são acompanhadas de uma grande densidade de descargas atmosféricas. Essas tempestades com raios atuam por todo o território brasileiro ao longo de todo o ano, porém em algumas regiões costumam ser mais intensas e frequentes no período mais chuvoso do ano, que ocorre entre os meses de outubro e março.

O período chuvoso da região Sudeste do Brasil ocorre justamente nesta época do ano e, com isso, é comum recordes de chuvas serem quebrados nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Apesar disso, episódios de chuvas intensas também são observados fora do período chuvoso, ressaltando a importância de um monitoramento meteorológico contínuo para as atividades ao ar livre.

Em fevereiro de 2021, Belo Horizonte registrou o terceiro fevereiro mais chuvoso desde 1910. De acordo com o levantamento dos dados de chuva do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a estação meteorológica de Santo Agostinho, no centro-sul de BH, recebeu 431,9 mm de chuva apenas durante o mês de fevereiro de 2021.

A média de chuva mensal para fevereiro em Belo Horizonte é de 181,4mm, o que significa que, em 2021, choveu 2,4 vezes mais do que a média. Com isso, este foi o segundo fevereiro consecutivo com um acumulado de chuva mensal muito acima da média, já que em fevereiro de 2020 a cidade registrou 391,8 mm. 

Em 2021, o destaque da chuva ocorreu entre os dias 4 e 8 de fevereiro, quando o acumulado foi de 218,9mm, representando mais da metade da chuva de todo o mês. Ressalta-se que, entre os dias 7 e 8, a capital mineira registrou 122,4mm num intervalo de apenas 24 horas, sendo o maior volume de chuva diário do ano até o momento.

Monitoramento de raios em BH (Smac)

Através do histórico de raios do SMAC, notamos que, entre os dias 4 e 8 de fevereiro de 2021, a região ao redor de Belo Horizonte registrou pelo menos 1290 raios, como podemos ver na figura abaixo. Durante estes dias, muitas atividades de construção/mineração foram paralisadas a fim de manter a segurança dos colaboradores que trabalham ao ar livre. Dependendo dos acumulados de chuva registrados diariamente, as empresas afetadas por estes eventos podem solicitar aumento no prazo de seus contratos por terem ficado impossibilitadas de trabalhar durante tais condições de tempo adverso.

Conheça um pouco mais sobre o SMAC!

Por Camila Brasiliense, Meteorologista e Head do Setor de Construção e Mineração na Climatempo.

Entenda: Tornado x Microexplosão

São José dos Campos, maior cidade do Vale do Paraíba, no estado de São Paulo, foi atingida por dois fenômenos meteorológicos distintos na noite desta terça-feira (09/03/2021). Havia previsão para ocorrência de tempestade com descargas elétricas para aquele fim de tarde, mas o inesperado foram as fortes rajadas de vento, que chegaram aos 95km/h e as quedas de granizo.

O ar quente da superfície contribuiu para que as correntes de ar ascendente o levassem rapidamente para o interior das nuvens de tempestade, originalmente com ar mais frio, tornando-se a combinação necessária para a formação de uma forte instabilidade, que favoreceu o desenvolvimento de um possível tornado. Esse possível tornado está representado pela nuvem no formato de espiral como visto nas fotos. Os tornados costumam causar danos nos locais em que a nuvem toca o solo, deixando um rastro de destruição. No entanto, quando fortes rajadas de vento se desprendem da base da nuvem, dão origem a um outro fenômeno chamado microexplosão (microburst), causando estragos em uma área ainda maior.

Os estragos desses dois fenômenos foram vistos pela população e confirmados pela prefeitura de São José dos Campos, pela concessionária de energia elétrica EDP (Energias de Portugal) e a Defesa Civil, que disseram que mais de 200 árvores caíram pela cidade, vários bairros ficaram sem energia e água até a manhã desta quarta-feira (10/03). Os pedidos de ajuda foram tantos que a linha do 190 ficou congestionada por alguns minutos, essas informações são comprovadas na seguinte notícia:

O SMAC (Sistema de Monitoramento e Alertas Climatempo) tem como objetivo contribuir na prevenção de ocorrências de tempo severo, através do monitoramento meteorológico e da previsão de Nowcasting, que utiliza dados e ferramentas em tempo real para indicar as regiões potenciais com risco de tempestades para a próxima hora.

Por Jéssica Mendes, meteorologista da Climatempo.

Mais notícias com relação a este tema são encontradas nos links:

https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2021/03/10/meteorologista-aponta-que-sao-jose-dos-campos-foi-atingida-por-tornado.ghtml
https://www.spriomais.com.br/2021/03/10/prefeito-de-sao-jose-dos-campos-diz-que-municipio-foi-atingido-por-um-tornado/http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2016/06/entenda-o-que-e-microexplosao-que-atingiu-campinas-veja-trajetoria-dela.html

Interação do Atlântico Sul com os sistemas meteorológicos no Brasil

Os oceanos cobrem, aproximadamente, 70% da superfície terrestre e devido a sua alta capacidade térmica desempenham um papel fundamental na variabilidade climática do planeta, onde a troca de energia oceano-atmosfera e as circulações oceânicas são determinantes para as condições de tempo e de clima (CAVALCANTI, 2006). Diferente do que muitas pessoas imaginam, não se pode levar em consideração apenas a temperatura da superfície do mar (TSM) do Pacífico ao analisar a distribuição de chuvas no Brasil. Devido a sua extensão continental, o Brasil também é afetado por variações da TSM de diferentes oceanos. Desde os impactos do aquecimento ou resfriamento do Oceano Pacífico em episódios de El Niño ou La Niña, afetando diretamente o padrão de chuvas sobre os principais reservatórios, até a influência do Atlântico tropical na posição da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), afetando diretamente a qualidade dos ventos no Nordeste brasileiro. De forma análoga, variações na TSM do Atlântico Sul são capazes de alterar as condições de tempo nas porções sul e sudeste da América do Sul (REBOITA et al., 2009), principalmente devido à existência de três regiões ciclogenéticas (área favorável a formação de ciclones, indicada por RC na Figura 1), localizadas no sul da Argentina, na costa do Uruguai e na costa Sul/Sudeste do Brasil, respectivamente.

Figura 1: Densidade de ciclogêneses (10-4 km-2) no verão entre 1990 a 1999, que se iniciaram com vorticidade menor ou igual a -1,5×10-5s-1. Adaptado de Reboita et al. (2009).

As regiões ciclogenéticas destacadas na Figura 1, são importantes para a manutenção do período chuvoso no Sul e em parte do Sudeste brasileiro, no qual sistemas frontais e ciclones são os principais responsáveis pelo padrão de precipitação no inverno austral.

Atlântico Sudoeste

O gradiente de TSM na região do Atlântico Sudoeste, indicado em cinza na imagem de satélite da Figura 2, é importante para a formação e avanço de frentes frias. Climatologicamente, são observadas águas mais frias (quentes) na porção sul (norte) do Atlântico Sudoeste e quanto mais intenso for este gradiente (diferença entre águas mais frias e mais aquecidas), maior será a energia disponível para a formação de sistemas frontais, atuando de forma positiva para o preenchimento dos reservatórios.

Figura 2: Imagem de satélite da AS com área delimitada em cinza destacando o Atlântico Sudoeste

As correntes oceânicas, que apresentam diferentes características físicas (temperatura e salinidade), são capazes de afetar as condições dinâmicas e termodinâmicas da atmosfera (PEZZI et al., 2006). Próximo a costa sul do Brasil, ocorre um grande contraste termal entre as massas d’água da Corrente do Brasil (águas aquecidas) e das Maldivas (águas frias), denominada Confluência Brasil-Malvinas (CBM).

Esta região foi estudada por Pezzi et al. (2005), no qual observaram que na ausência de frentes frias e ciclones na região, a CBM é capaz de alterar as condições da instabilidade da camada limite atmosférica (Figura 3) nas regiões adjacentes. As águas mais aquecidas, destacadas em vermelho na Figura 3, são as principais responsáveis por alterar a intensidade da magnitude do vento (PEZZI et al., 2005), impactando na geração hídrica principalmente nos meses de inverno nas bacias do Uruguai, Paranapanema e parte do Paraná.

Figura 3: Temperatura da superfície do mar (cores) e vetores de vento no dia 2 de novembro de 2004. Extraído de Pezzi et al. (2005).

Alguns estudos que avaliaram o impacto da TSM do oceano Atlântico Sudoeste no padrão de precipitação no Sul do Brasil e no Uruguai, destacaram que anomalias positivas (negativas) de TSM estão associadas com anomalias negativas (positivas) de precipitação nestas regiões, principalmente nos meses de abril a junho, período em que as condições de TSM do Atlântico Sudoeste contribuem mais significativamente em comparação com outros tipos de oscilações, como o próprio El Niño (DIAZ et al., 1998).

A Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS), um sistema de alta pressão semipermanente no Atlântico Sul, localizada em torno de 30 graus de latitude, influencia as condições de tempo e clima da AS devido ao seu padrão de circulação atmosférico. No inverno, a ASAS está mais intensa e próxima da América do Sul, podendo interferir na entrada e desenvolvimento de sistemas frontais no Sul e Sudeste. Já no verão, A ASAS se afasta da América do Sul e sua circulação é importante para o transporte de umidade do oceano, dando condições para a manutenção da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), um dos principais sistemas meteorológicos do período úmido no Centro-Sudeste brasileiro (BASTOS e FERREIRA, 2000).

Próximos meses

O mês de fevereiro foi marcado pelo aquecimento da porção sul do Atlântico (costa do extremo Sul da América do Sul) e esse aquecimento foi responsável por enfraquecer o gradiente de TSM que favorecia o avanço de frentes frias no Sul do país. Por outro lado, as águas próximas à costa do Sudeste brasileiro, que sofreram redução da TSM, favoreceram a formação de ZCAS.

Para o mês de março, a tendência é que este padrão de TSM se mantenha, favorecendo a convergência de umidade entre o Sudeste e o Nordeste brasileiro, mas com aumento de precipitação no Sul do Brasil em relação ao mês de fevereiro.

O dipolo do Atlântico Central se mantém na fase positiva, ou seja, a ZCIT está posicionada ao norte de sua posição histórica, mas ainda assim já começa a impactar a produção eólica na costa norte do Nordeste brasileiro, principalmente no estado do Ceará.

Autores: Meteorologistas Patrícia Madeira, Rafael Benassi e Vitor Hassan

Referências Bibliográficas

BARROS, V.; GONZALES, M.; LIEBMANN, B.; CAMILLONI, I. Influence of the South Atlantic convergence zone and SouthAtlantic Sea surface temperature on interannual summerrainfall variability in Southeastern South America. Theoretical and Applied Climatology, v. 67, n. 3, p. 123-133, 2000.

BASTOS, C. C.; FERREIRA, N. J. Análise climatológica da alta subtropical do Atlântico Sul. CEP, v. 12220, n. 110, p. 973-990, 2000.

CAVALCANTI, I. F. A. Tempo e clima no Brasil. Oficina de textos, 2016.

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